Norma Nascimento Silva, mãe de Keulen Barros, que recentemente denunciou um estupro em Santana, Amapá, fez um desabafo público, emocionada e visivelmente abalada, sobre os ataques que ela e sua filha têm recebido nas redes sociais. Norma relata o sofrimento vivido nos últimos dias, defendendo a filha das acusações que vêm sendo feitas e pedindo justiça. O caso ganhou repercussão na cidade e levantou discussões sobre a vulnerabilidade de vítimas de crimes sexuais.
“O que está acontecendo com minha filha, está acontecendo comigo também"
Logo no início do vídeo, Norma deixa claro que não consegue separar o sofrimento de sua filha do seu próprio. “O que tá acontecendo com a minha filha, tá acontecendo comigo também”, diz, explicando que está fazendo o desabafo de "livre e espontânea vontade", devido à gravidade da situação. A mãe conta que, por alguns dias, tentou ignorar os comentários maldosos, mas chegou a um ponto onde isso se tornou impossível, especialmente porque os ataques partem, em grande parte, de mulheres.
Norma revela sua dor e surpresa ao ver mulheres — muitas delas mães, segundo ela — atacando sua filha em vez de apoiarem uma vítima de violência sexual. “Se fosse de homens, eu ficaria calada, mas de mulheres... Mulheres que têm filhos, que têm filhas, nos atacando, me atacando, atacando a minha filha. Logicamente, se estão atacando a minha filha, estão me atacando também.”
A dor e o sofrimento diários
A mãe explica que Keulen está profundamente abalada desde o incidente, e ambas têm vivido dias de extremo sofrimento. Ela relata que a filha não consegue dormir, e isso também afeta seu próprio descanso. "A minha filha tá muito mal. Ela tá todos esses dias sem poder dormir. Logicamente, se ela não dorme, eu não durmo também. A gente tá sofrendo juntas", desabafa.
Norma critica duramente a narrativa de que sua filha estaria armando a situação para prejudicar o acusado, um homem de renome na cidade, que se defende alegando inocência. Ela se mostra revoltada com a inversão de papéis em que a vítima, sua filha, é tratada como culpada. “Estão jogando em cima da minha filha, que é vítima, a culpa, e tirando a culpa de quem? Dele, vitimizando ele", protesta.
"Eu acredito na justiça"
Em um dos momentos mais emocionantes da entrevista, Norma demonstra sua fé em Deus e na justiça dos homens. Ela acredita que, apesar das dificuldades, a verdade virá à tona e sua filha será reconhecida como vítima. “Eu acredito na justiça, tanto de Deus, primeiramente de Deus, e depois daqui. Eu acredito muito na justiça”, afirma.
Em resposta às críticas sobre a denúncia ter sido feita somente agora, Norma sugere que as pessoas deveriam questionar o acusado, e não sua filha, sobre os motivos de seu comportamento. Para ela, esse tipo de crime é muitas vezes silenciado por figuras poderosas. “Eu não vou me calar. A minha filha, quando procurou a justiça para denunciar esse cidadão, eu não sabia. [...] Desde esse dia, a minha vida virou um inferno.”
O envolvimento com o prefeito Bala e o afastamento de Keulen
Durante o desabafo, Norma confirma que sua filha, anos atrás, teve um envolvimento com o prefeito Bala, o que resultou em mais ataques recentes nas redes sociais. Ela detalha que, ao descobrir o relacionamento, tomou a decisão de afastar Keulen, enviando-a de volta para Belém, onde a família morava. "Imediatamente conversei com o pai dela E levei ela para Belém", conta.
A mãe faz questão de esclarecer que, na época, Keulen era uma jovem de 17 para 18 anos, enquanto o prefeito era um homem casado e responsável por suas próprias ações. "Minha filha era solteira, quem era casado, quem era pai de filhos, era ele. Não era minha filha."
Norma revela que tentou ao máximo proteger a filha dessa situação, mas lamenta que o envolvimento tenha vindo à tona agora, muitos anos depois, e acredita que foi exposto por alguém de dentro do círculo do acusado. “Se isso está aí exposto, foi alguém que sabia. Porque muita gente sabia.”
"Eu me arrependi de trazer minha filha de volta"
Norma expressa ainda o arrependimento de ter trazido Keulen de volta ao Amapá, depois de acreditar que o estado havia mudado e que sua filha poderia viver em paz. Ela se decepciona ao perceber que a cultura de poderosos que abusam e silenciam as vítimas ainda persiste. “Eu pensei que esse estado tivesse mudado, porque ele cresceu, desenvolveu, eu pensei que tivesse mudado. Mas não. Não mudou nada.”
"Eu não vou me calar"
O desabafo de Norma Nascimento Silva é um grito de indignação. Ela deixa claro que, apesar dos ataques e do sofrimento, não se intimidará e continuará lutando por justiça para sua filha. “Eu tô indignada, e eu não vou me calar. Gente, eu não vou me calar de jeito nenhum. Podem botar o que botarem. [...] Porque se toda mãe que visse uma filha ser abusada por poderoso e denunciasse, já tinha acabado com isso”, finaliza.
A entrevista de Norma reflete não só a dor de uma mãe, mas também a luta contra a impunidade e o preconceito que frequentemente cercam as vítimas de crimes sexuais. O caso de Keulen Barros ganhou uma dimensão pública e levantou debates importantes sobre o tratamento dado às mulheres que denunciam abusos, especialmente em cidades pequenas, onde o poder político e social muitas vezes ditam as narrativas.
A repercussão do caso
O caso ainda está em andamento, e as autoridades locais continuam investigando as alegações feitas por Keulen Barros. A entrevista de sua mãe, Norma Nascimento Silva, traz à tona o impacto psicológico e emocional que esse tipo de situação pode causar tanto na vítima quanto em seus familiares, e ressalta a importância de um apoio coletivo, especialmente por parte de outras mulheres, para que mais vítimas se sintam encorajadas a denunciar abusos.
Norma termina seu desabafo com um apelo à empatia e justiça, pedindo que as pessoas parem de atacar sua filha e, em vez disso, se unam em busca de justiça para todas as mulheres que enfrentam situações semelhantes.