As últimas pesquisas de opinião revelam um dado inquietante: 36,9% dos amapaenses consideram a atual gestão estadual “regular”. À primeira vista, esse número poderia sugerir um ponto de equilíbrio — um governo nem tão ruim, nem tão bom. No entanto, na linguagem política, o “regular” é o nome da indiferença. É o sintoma de uma população cansada, que já não acredita nas promessas e que vê a máquina pública funcionar em marcha lenta. O que se traduz como neutralidade estatística é, na prática, um estado coletivo de desalento e descrença.
Essa apatia social é resultado de um processo cumulativo de frustração e descompasso entre discurso e realidade. O governo que prometia eficiência, diálogo e modernização revelou-se refém de uma lógica burocrática e sem ousadia. Os grandes anúncios foram substituídos por pequenas entregas, e a energia inicial deu lugar à morosidade administrativa. O cidadão comum, que esperava um salto de qualidade, agora se depara com a repetição de velhos erros, embalados em novas retóricas. Em essência, o que se vê é um projeto político que perdeu a capacidade de inspirar e, com isso, a legitimidade para conduzir o futuro.
A cada ano, o Amapá reafirma uma narrativa de potencial não realizado, especialmente em relação ao Porto de Santana, eternamente apresentado como promessa de prosperidade e integração econômica. Décadas se passaram, governos mudaram, e o Porto continua sendo tema de discursos, planos e anúncios — mas não de resultados concretos. Faltam investimentos logísticos, capacidade operacional e visão estratégica. O que poderia ser o motor de exportações e o eixo logístico da Amazônia Oriental, permanece como símbolo da inércia administrativa e da falta de continuidade nas políticas públicas. O Porto de Santana é, talvez, o retrato mais nítido da distância entre o que o Amapá sonha e o que efetivamente realiza.
O mesmo se pode dizer da infraestrutura de transportes, um gargalo histórico que isola o estado e impede o seu crescimento sustentável. A Ponte sobre o Rio Jari, iniciada há anos, permanece em compasso de abandono — um projeto que não avança, entrando e saindo de pauta ao sabor dos interesses eleitorais. As rodovias BR-156 e BR-210, por sua vez, seguem com trechos precários e sem pavimentação significativa, mesmo após décadas de promessas e de recursos anunciados. Essa negligência não é apenas um problema técnico: é uma barreira simbólica e econômica. Sem estradas pavimentadas, o Amapá permanece desconectado do país, preso a uma geografia de isolamento que limita investimentos, encarece o transporte e restringe o acesso da população a oportunidades.
Esse conjunto de falhas estruturais aprofunda a sensação de que o Amapá vive um ciclo político esgotado, preso a um modelo de gestão que privilegia o improviso e a autopromoção em detrimento do planejamento de longo prazo. Um governo que não entrega obras estruturantes, que não avança na geração de empregos e que não consegue romper a dependência da máquina pública, inevitavelmente perde a capacidade de mobilizar esperança. É um governo que fala de futuro, mas administra o presente com ferramentas do passado.
Nesse cenário, a disputa simbólica e política entre o governador Clécio Luís e o prefeito de Macapá, Dr. Furlan, ganha contornos de transição histórica. O embate não é meramente pessoal — ele reflete a colisão entre dois projetos de estado. De um lado, um governo que tenta manter viva uma agenda de promessas, mas que se mostra desgastado e sem resultados concretos. De outro, uma prefeitura que apresenta obras, planejamento e resultados tangíveis, posicionando a capital como protagonista de um novo ciclo de desenvolvimento.
Dr. Furlan tem consolidado uma imagem de gestor realizador, próximo da população e conectado aos desafios reais da cidade. Sua atuação, especialmente na requalificação urbana e na preparação da capital para o ciclo do petróleo, contrasta fortemente com a lentidão e a hesitação do governo estadual. Enquanto Clécio busca reconstruir sua imagem com gestos de presença e comunicação intensa, Furlan trabalha com ações efetivas — e é isso que tem feito diferença. Na política contemporânea, a confiança popular não se conquista com discursos, mas com entregas concretas.
A exploração do petróleo na costa amapaense reforça a urgência de se repensar o papel do Estado e da gestão pública. O Amapá não pode repetir os erros históricos da Amazônia, em que a riqueza natural gera prosperidade para poucos e desigualdade para muitos. O novo ciclo energético deve ser acompanhado por planejamento, capacitação profissional e fortalecimento das instituições locais, garantindo que os benefícios fiquem no território e alcancem as comunidades. Sem isso, o petróleo corre o risco de se transformar em mais uma oportunidade perdida — um novo “Porto de Santana” em escala ampliada.
O que está em jogo, portanto, não é apenas uma disputa entre Clécio e Furlan, mas a possibilidade real de o Amapá romper o ciclo de promessas e iniciar uma fase de desenvolvimento efetivo. Trata-se de decidir entre a manutenção de um projeto esgotado, sem energia e sem propósito, e a construção de um futuro promissor, com geração de empregos, oportunidades reais e integração regional. O tempo da retórica já passou. O Amapá precisa, finalmente, sair do papel, das inaugurações simbólicas e dos anúncios repetidos — precisa se tornar protagonista de sua própria história de desenvolvimento.
José Roberto Pantoja
Professor, Advogado, Mestre em Educação Membro da Comissão de Petróleo e Gás da OAB Amapá